O mundo da tecnologia está repleto de nomes pouco interessantes à primeira vista. É o caso da geolocalização, técnica que utiliza coordenadas geográficas para determinar algum ponto no mundo offline .
O aplicativo Pokemon Go!, febre nos Estados Unidos, aproveitou a geolocalização para espalhar monstros virtuais que devem ser caçados em várias cidades do mundo. Mas passatempos com geolocalização não são novidade e nem exclusividade do novo jogo.
O mais popular deles é o Geocaching, uma espécie de aventura ao ar livre que une a lógica da caça ao tesouro, atividade física e colaboração.
Dave Ulmer testava a precisão de um gps quando “inventou” o geocaching. Foto: Wikimedia Commons
A história do Geocaching começou em 2000 quando o norte-americano Dave Ulmer escondeu um recipiente apelidado de geocache e divulgou a latitude e longitude exatas do objeto por meio de um navegador por satélite com GPS (Global Position System).
Atualmente, a prática conta com mais de 10 milhões de participantes e 2,5 milhões de recipientes* espalhados pelo mundo à espera de serem encontrados.
A publicitária Juliana Mendes é uma dessas adeptas que entende o passatempo como uma oportunidade de explorar os arredores.
“O legal do geocaching é que você acaba descobrindo um pouco mais da sua cidade. A medida que você vai procurando o tesouro, você pode conhecer novos lugares”, conta.
O que é um geocache
Um geocache pode ser micro, pequeno e normal. Foto: Divulgação
Um geocache é uma espécie de “tesouro” e pode ter tamanho variado e ser escondido conforme a criatividade do jogador.
Dentro dele, é possível encontrar um diário de bordo e algumas bugigangas. “Normalmente, as pessoas deixam algo sem muito valor na caixa e você o troca por outro”, explica Juliana.
Também não há um padrão único de cache, desde que seja um recipiente duro e que possa ser vedado. Latas, potes de sorvete e vasilhas de plástico costumam ser escolhidos pelos praticantes.
Cache achado em árvore no centro de Brasília. Fotos do Logbook.
Há caches que ficam escondidos em galhos de árvores e outros deixados no cume de uma montanha, por exemplo. De acordo com as regras, elas não podem ser enterradas.
Apesar de parecer uma atividade que exige muito esforço físico, você pode começar com um cache com nível de dificuldade para iniciantes.
“No fim, você vai precisar de um navegador GPS ou um smartphone com esse recurso. Você baixa, verifica quais os tesouros e ele dá o mapa. Chegando no local, é ser esperto e procurar”, destaca Juliana, que garante já ter encontrado uma dessas caixas.
Caça do tesouro escondido
Para entender melhor a dinâmica da atividade, optamos por instalar o aplicativo gratuito c:geo, que faz a conexão com o banco de dados do site oficial.
Distante 1km da redação do Portal EBC em Brasília, fomos atrás de um desses cache de tamanho micro. Ele está escondido na Praça do Compromisso, local onde há esculturas em homenagem ao índio Galdino Jesus dos Santos, na 705 Norte.
Vista área do geocache micro escondido na Praça do Compromisso.
Mesmo com as coordenadas exatas do GPS, não conseguimos encontrar o nosso alvo. Porém, descobrimos depois que o Geocaching permite a criação de diários virtuais (logbooks) para registros de pessoas que obtiveram sucesso na busca e para aqueles que não conseguiram.
O logbook auxilia na atualização do objeto em caso de extravios ou danos. Alguns usuários chegaram a bater fotos e dar dicas de onde estão.
Além de socializar, o passatempo também é uma competição. O usuário camoura lidera o ranking brasileiro com 3019 caixas encontradas e 296 escondidas. Em 10º lugar, o usuário chuckwonderland encontrou 35 caixas e escondeu 13.
Trio de jovens mostra geocache achado no maior parque urbano do DF
Riscos e inconvenientes
Assim como ocorre com os personagens virtuais do aplicativo Pokémon Go!, os caches reais podem estar em locais de risco ou em terrenos privados.
Para diminuir riscos ou inconvenientes, a empresa que gere o site possui uma central de atendimento para que se solicite a retirada dos objetos da localização inapropriada.
Na opinião de Juliana, toda tecnologia possui riscos e sempre há pessoas que querem atrapalhar. “Um cache de verdade traz um bilhete pedindo para que as pessoas não joguem a caixa fora ou que avisem caso esteja em lugar indevido”, relata.
Dependendo do nível de dificuldade da busca, o risco pode voltar-se para a segurança física do praticante. Em agosto do ano passado, um homem foi encontrado morto após ter saído para praticar geocaching no Parque Natural das Serras de Aire, em Portugal.
Turistas em busca de geocaches
As caches brasileiras também são bastante exploradas por estrangeiros. No logbook de outro cache escondido no maior parque urbano de Brasilia, a maioria dos registros virtuais era de estrangeiros.
O usuário alemão knarf48, por exemplo, disse que “durante uma curta viagem a negócios em Brasília eu encontrei este agradável cache.”
Com o início dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, essa procura estrangeira deve aumentar no país, contudo caixas vedadas podem gerar preocupação para turistas e autoridades locais.
Consultada sobre possíveis usos inapropriados por terroristas, a equipe do Geocaching.com respondeu que atua em parceria com agentes da lei e que incentiva geocachers certos cuidados para que não gere suspeitas indevidas.
“Nos encorajamos os geocachers a usarem recipientes de plástico transparente claramente rotulados como geocaches para que tanto outros geocachers como agentes da lei estejam cientes do conteúdo desse recipiente”, detalhou Chris Ronan, gerente do Geocaching.
Confira as cinco regras* para a prática do Geocaching:
1) Um geocacher deve esconder um geocache, listá-lo no site geocaching.com e desafiar outros geocachers para encontrá-lo;
2) Dentro de um geocache deve ter, no mínimo, um diário de bordo para que as pessoas registrem sua descoberta. A experiência pode ser registrada virtualmente para gerar sua pontuação;
3) Alguns geocaches possuem pequenas bugigangas para troca. Se alguém levar algo de um geocache, deve substituí-lo por outro de valor igual ou superior;
4) Todo geocache deve ser devolvido para o mesmo lugar que foi encontrado.
5) Os geocaches nunca devem ser enterrados.
*Informações do Press kit do Geocaching.com;
**Juliana Mendes participou de entrevista para o Programa Ponto Com Ponto Br..