‘A fome não espera. Fico feliz de estar ajudando o próximo’, diz ex-faxineiro.
Reinaldo Ferreira luta contra o alcoolismo por 21 anos.

Com apelido engraçado e fala apressada, Reinaldo Ferreira, de 29 anos, é conhecido pelo trabalho que desenvolve dentro e fora da Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa). Mais conhecido como ‘Já Morreu’, devido a um trabalho temporário no Instituto Médico Legal (IML), o ex-faxineiro gasta horas separando restos de verduras e frutas que poderiam ir para o lixo, e doa para moradores de rua e entidades que cuidam de dependentes químicos.
Após sofrer 21 anos com o alcoolismo, ele, que já chegou a viver na rua por duas semanas, hoje se dedica a ajudar famílias que passam por algum aperto, seja pela fome ou pelo vício.
Ferreira teve seu contato com o álcool ainda aos 8 anos. Ele diz que passou a beber e ficar nas ruas por algumas semanas. “Meu pai deixava o resto de bebida no copo e eu ia lá e bebia. Cheguei muitas vezes a dormir pela rua, por cerca de duas semanas, até que uma mulher me ajudou. A chamo até de mãe porque me acolheu, minha mãe verdadeira não tinha condições de criar os seis filhos”, relembra.
Natural de Cruzeiro do Sul, o homem que hoje tira um tempo para ajudar o próximo, conta que passou por momentos difíceis e que só conseguiu se livrar do álcool após entrar na igreja e se dedicar à família.
“Quando eu era criança, meu pai fez uma ligação para minha mãe e disse que já estava no Amazonas. Aí minha mãe entrou em desespero e achou que era melhor a gente ir para Rio Branco, mas era muito difícil. Às vezes, passava o dia perambulando pela rua, tentava levar alimento para a minha mãe”, conta.
Após tantas dificuldades, o ex-faxineiro conta que chegou a ficar nas ruas por cerca de duas semanas, até ser encontrado pela mulher que o ajudou. “Eu cheguei a beber perfume porque a minha vontade não tinha limites. Mas, procurei a igreja e mesmo bêbado, eu ia para os cultos, formei minha família e fui seguindo a vida sem o álcool. Isso é chamado de dom de Deus”, acredita.

Trabalho voluntário
Após superar as barreiras do alcoolismo, Ferreira conseguiu emprego de faxineiro na Ceasa, onde começou a perceber que muitos alimentos comercializados no local, muitas vezes, iam para o lixo mesmo ainda podendo ser reaproveitados.
“O meu incentivo foi que eu via muita gente jogando coisa no lixo. Então, falei com o meu patrão e pedi permissão para separar os alimentos que ainda davam para consumir e levar para as pessoas da Baixada da Sobral. Então, sempre no fim do dia, venho aqui, recolho o alimento e uma equipe da igreja de onde faço parte me ajuda a separar os alimentos e distribuímos para moradores de rua e entidades que cuidam de dependentes químicos”, conta.
A doação do ex-faxineiro ajuda na produção de sopas para essas pessoas que vivem sem ter o que comer.
“A fome não espera. Fico feliz de estar ajudando o próximo, porque eu também passei fome. Muitas vezes a minha filha pedia comida e a gente não tinha e a gente ia para a minha sogra comer farinha com cebola”, lembra emocionado.
E foi entre a dificuldade e a vontade de ajudar, que o Ferreira decidiu fazer a sua parte. Questionado se pretende parar algum dia esse trabalho voluntário, ele é enfático. “Até Deus me levar estarei aqui trabalhando para o próximo”, destaca.
‘Tenho fé, que tudo vai dar certo’
Após quatro anos limpando a Ceasa, o ex-faxineiro e alcoólatra, conta que conseguiu mais uma conquista este ano. De faxineiro, ele vai assumir o cargo de administrador em um mercado na Sobral, área onde também mora e atua como voluntário.
“Vou ser administrador de um mercado e deixo a parte de limpeza daqui. Mas, não saio daqui porque meus parceiros também são daqui. Então, muita gente me ajuda dentro e fora da Ceasa. E sempre que eu puder, vou estar por aqui”, garante.
Ferreira diz ainda que lutou contra o alcoolismo durante 21 anos