O jornal “The New York Times” afirmou nesta quarta-feira (30) ter sofrido uma série de ataques de hackers chineses nos últimos quatro meses.
Em um artigo publicado em seu site, o jornal afirma que, com a ajuda de especialistas em segurança da informática, conseguiu rastrear os intrusos e evitar que eles voltassem a invadir seu sistema.
Os ataques iniciaram na mesma época em que o jornal americano publicou, em outubro passado, uma reportagem denunciando que parentes do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, acumularam bens de ao menos US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 5,5 bilhões) após sua ascensão ao poder.
A publicação afirma que especialistas em segurança digital contratados por ela encontraram sinais de que hackers invadiram as contas de e-mail do chefe de sua sucursal em Xangai, David Barboza –autor dos relatórios sobre os parentes de Wen Jiabao–, e de Jim Yardley, chefe da sucursal na Índia, e que havia trabalhado anteriormente para o jornal em Pequim.
“Especialistas em segurança digital encontraram evidências de que inúmeros e-mails e arquivos do autor de nossas matérias sobre a família Wen foram acessados, baixados e copiados”, disse Jill Abramson, editora-executiva do “New York Times”.
Ed Jones-29.set.12/France Presse | ||
O premiê chinês, Wen Jiabao, brinda durante festa do Partido Comunista, um dia depois de expulsar ex-dirigente |
INVESTIGAÇÃO
De acordo com o jornal americano, os familiares de Wen (incluindo a mãe, os filhos, seu irmão mais novo e seu cunhado) podem ter se aproveitado do poder e da autoridade do premiê para acumular fortuna nos negócios.
Os documentos obtidos pelo jornal indicam que, em vários casos, os nomes dos parentes de Wen estão ocultos em meio a parcerias e empresas oficialmente chefiadas por amigos, colegas de trabalho ou parceiros de negócios.
Os familiares do premiê têm, sempre de acordo com o jornal, participações em bancos, companhias de telecomunicação, projetos de infraestrutura e resorts para turistas –às vezes, valendo-se de “offshores” (empresas abertas em paraísos fiscais).
Entre os investimentos da família de Wen estão um condomínio em Pequim, uma fábrica de pneus no norte da China, a empreiteira que construiu alguns dos estádios para a Olimpíada de Pequim em 2008 –inclusive o célebre Ninho de Pássaro– e a Ping An Seguros, uma das maiores companhias de serviços financeiros no mundo.
‘MÃOZINHA’ DO ESTADO
Os documentos mostram também que, diferentemente da maioria dos novos negócios na China, as empresas dos parentes de Wen tiveram apoio financeiro de estatais como a China Mobile, uma das maiores teles do país. Alguns dos empresários mais ricos da Ásia também investiram nas companhias dos familiares do premiê, afirma o “NYT”.
Filho de uma professora e oriundo de uma família “extremamente pobre”, segundo suas próprias palavras, Wen Jiabao tornou-se vice-premiê em 1998 e primeiro-ministro cinco anos depois –na hierarquia de poder na China, ele responde apenas ao líder máximo, Hu Jintao.
Não há provas de que Wen tenha tomado, deliberadamente, medidas a favor de familiares –mas é certo que eles aproveitaram chances surgidas de decisões suas.
Na China, o premiê supervisiona as agências que regulam o mercado de ações e influencia investimentos em setores estratégicos, como energia e telecomunicações.