‘A morte é barata no México’, diz jornalista

No México, até os vendedores de flores nas ruas vivem sujeitos à extorsão e à ameaça de morte. Como um casal de idosos que vende rosas, cravos e íris numa estrada da Cidade do México e que se vê obrigado a pagar 200 pesos (cerca de R$ 30) por semana às máfias que aterrorizam a nação inteira. Humberto Padgett cita esse casal para ilustrar a situação da violência sem limite que vive o seu país.

— A morte no México é barata porque não tem consequência alguma. Há uma impunidade total que define esse momento de delinquência no país — denuncia o repórter que no dia 8 passado ganhou o Prêmio Ortega y Gasset, na Espanha, com o melhor trabalho na categoria jornalismo impresso.

“Los muchachos perdidos”, título do trabalho publicado em março de 2011 na revista “Emeequis” e que deu origem ao livro de mesmo nome, é um ousado retrato dos jovens encurralados pela miséria e a marginalização, que encontram na violência uma via de escape. Alguns deles aos 15 ou 17 anos já possuem um histórico de roubos, sequestros e assassinatos.

Humberto Padgett, que nasceu em 1975 no México, visitou junto com o fotógrafo Eduardo Loza centros carcerários para jovens, cuatro masculinos e um feminino, todos na capital mexicana. Entrevistou mais de 30 rapazes e moças, sempre com um guarda a uma distância prudente, ouvindo histórias complexas e estarrecedoras. Esse trabalho de investigação se converteu num livro, em que se aprofunda nas vidas de uma geração entregue ao crime pelas escassas possibilidades de acesso à educação e ao emprego formal.

A extorsão é moeda comum no México, como também a intimidação, as ameaças e os assassinatos — aos quais não escapam jornalistas investigativos, como Padgett.

— Somos resultado de nosso presente — adverte o repórter para em seguida explicar sua dedicação à denúncia dos dramas da sociedade mexicana. — É esse México que tento buscar, machucado pelo crime organizado e por uma sociedade política que não tem estado à altura das expectativas dos mexicanos.

É o México que retrata um dos adolescentes entrevistados para a reportagem: “Prefiro morrer jovem e rico do que velho e ferrado como meu pai.”

No México foram assassinados ou desapareceram uma centena de jornalistas nos últimos anos. Padgget rejeita o termo valente e diz que corajosos são aqueles que arriscam a vida nas pequenas cidades, como Ciudad Juárez, Veracruz ou Morelia. Também está consciente de que alguns profissionais optaram pela autocensura e que muitos meios de comunicação deram as costas ao ofício.

— Quando um jornal paga 200 euros ao mês (R$ 500), como podemos exigir que sejam jornalistas de alta qualidade profissional, comprometidos com a profissão e que ponham em risco suas vidas e as de suas famílias? — pergunta.

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