Escândalo na CIA entra na fase do marketing.

Em cada escândalo que vem turvar esta capital, a fase inicial, feita de revelações chocantes e cobertura noticiosa exaustiva, não demora a dar lugar à fase dois: o marketing político. O caso envolvendo sexo e e-mails que forçou o diretor da CIA a abandonar seu cargo e envolveu o comandante-chefe dos EUA no Afeganistão agora já chegou à etapa do controle de imagem, e todo um setor profissional venerável em Washington já foi plenamente envolvido.

Os atores principais contrataram representantes de perfil e cachê alto para administrar as consequências, ficar atentos para problemas legais, policiar a mídia e massagear reputações prejudicadas.

David H. Petraeus, que admitiu ter tido um caso extraconjugal e renunciou à direção da CIA em 9 de novembro, contratou os serviços do superadvogado Robert B. Barnett, cuja lista online de clientes começa simplesmente com os últimos três presidentes americanos. Embora Barnett talvez seja mais conhecido por negociar megacontratos de livros para a elite de Washington, consta que seu foco, desta vez, será direcionar a carreira futura de Petraeus, não sua vida literária.

A biógrafa e amante de Petraeus, Paula Broadwell –segundo a qual, antes do escândalo, doadores políticos republicanos a teriam incentivado a candidatar-se ao Senado– atravessou as linhas partidárias para contratar Dee Dee Myers, ex-secretária de imprensa da Casa Branca de Clinton e analista na televisão. Myers disse que sua firma, o Glover Park Group, já tem quatro pessoas trabalhando apenas para rastrear e responder aos pedidos da mídia relativos a Broadwell.

Jill Kelley, a anfitriã de Tampa cuja queixa para o FBI sobre e-mails anônimos recebidos foi o estopim da conflagração, está sendo representada por Abbe D. Lowell, um dos maiores advogados de defesa de acusados em crimes do colarinho branco em Washington. No início ano Lowell defendeu com sucesso John Edwards, acusado de fazer uso ilegal de verbas de campanha para acobertar suas aventuras extraconjugais. Conhecido de Kelley do cenário social de Washington, Lowell imediatamente convocou também Judy Smith, que tem experiência em lidar com escândalos na capital e se promove na web como “a especialista nº1 da América em administração de crises”.

Mesmo uma personagem periférica já contratou uma porta-voz. Natalie Khawam é irmã gêmea de Jill Kelley, e sua principal relação com o escândalo é uma carta de referência que Petraeus escreveu para ela em seu processo litigioso envolvendo a guarda de seu filho. Ela contratou a advogada de celebridades Gloria Allred, que na terça-feira promoveu uma coletiva de imprensa no hotel Ritz-Carlton, em Washington, para “corrigir percepções equivocadas” a respeito de sua cliente.

“Minha irmã Jill e eu não somos apenas gêmeas, somos melhores amigas”, disse Khawam, às lágrimas, diante de uma dúzia de câmeras de TV e 30 repórteres, alguns dos quais pareciam perplexos quanto à finalidade da entrevista coletiva. “Jogávamos tênis juntas na universidade –ela jogava na rede e eu dava os saques.” Além disso, ela revelou, “adoramos cozinhar juntas. Eu geralmente asso as coisas e ela refoga.”

Com relação a Jill Kelley e à investigação do FBI que esta desencadeou, Allred disse que nem ela, nem Khawam podiam dar declarações. Allred tinha sido vista mais recentemente representando uma das mulheres que acusou o pré-candidato presidencial republicano Herman Cain de assédio sexual.

Na realidade, a única figura importante entre os personagens principais do escândalo a não contar com um representante sequer semifamoso é o general John R. Allen, comandante-chefe da Otan no Afeganistão, cujos e-mails para Jill Kelley estão sendo revistos pelo inspetor geral do Departamento de Defesa para determinar se alguns foram inapropriados. Mas os contribuintes já providenciaram para ele um exímio advogado de defesa militar, o advogado de defesa chefe dos Marines, além de porta-vozes militares qualificados, se bem que estes foquem principalmente a guerra.

As autoridades policiais dizem que é pouco provável que qualquer dos envolvidos no escândalo seja acusado de um crime, embora a investigação do FBI sobre a possível perseguição cibernética de Paula Broadwell, desmascarada como sendo a autora dos e-mails anônimos, não tenha sido encerrada.

Mas, como os escândalos em Washington com frequência se desenrolam principalmente na mídia, uma praxe constante consiste em contratar não apenas um assessor jurídico, mas também um especialista em relações públicas –que, em muitos casos, pode ser a mesma pessoa, disse Robert M. Entman, professor de mídia e assuntos públicos na Universidade George Washington e autor de “Scandal and Silence: Media Responses to Presidential Miscondut”.

“Os escândalos não são bem medidos”, disse Entman, e a reação da mídia pode ser extremamente imprevisível. “Faz sentido contratar alguém que entenda de publicidade e entenda como funciona a mídia.”

Myers disse que sua firma foi contratada pelos advogados de Paula Broadwell, Robert Muse e Joshua Levy, “para ajudar Paula e sua equipe jurídica a orientar-se no meio de um ambiente de mídia superlotado, administrar pedidos (de entrevistas) que chegam e garantir que sua história seja relatada com precisão. É realmente impossível para uma pessoa na situação de Paula lidar com a avalanche diária de pedidos de entrevistas, o que dirá procurar verificar a verdade factual das versões que circulam. Assim, faz sentido contratar alguém para ajudar.”

Boa parte da ajuda é dada em conversas com jornalistas nos bastidores para rebater rumores, corrigir supostos equívocos e apresentar a versão do cliente sob uma ótica positiva para ele. Com frequência ela não envolve declarações públicas.

“Não tenho nada a declarar. Espero que vocês entendam”, disse Barnett, o advogado de Petraeus. Também Lowell negou-se a dar declarações em nome de Jill Kelley, e Judy Smith fez o mesmo. O advogado e porta-voz do general Allen se limitaram a dar uma declaração breve dizendo que Allen vai cooperar plenamente com a investigação do inspetor geral.

Gloria Allred se dispôs a falar um pouco mais, embora seu foco principal não fosse o escândalo propriamente dito, mas o tratamento dado a Khawam em seu processo pela guarda do filho.

Mesmo assim, Allred deu um conselho à imprensa reunida no hotel Ritz-Carlton, onde, no final de outubro, Petraeus e Broadwell compareceram a um jantar formal da Sociedade OSS, dedicada à predecessora da CIA.

“Peço cautela a todos no uso de estereótipos e de linguagem que podem acabar não sendo exatos, no final”, disse a advogada. “A integridade e as habilidades jornalísticas estão em jogo.”

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